Publicada há algum tempo, e que encontrei um tópico de discussão sobre ela no orkut, achei interessante a notícia e posto aqui:
RIO - Mais de 400 livrarias em diferentes estados brasileiros receberam na semana passada um e-mail da distribuidora Superpedido e da Ediouro, maior grupo editorial do país, anunciando uma nova política para devolução de livros que não fossem vendidos: "Não será necessário enviar os livros fisicamente", dizia o e-mail, mas apenas "a capa, quarta capa e ficha catalográfica (...). O miolo deverá ser descartado", orientava a mensagem. Enviada no dia 13 de abril, a ordem para arrancar a capa e jogar fora as páginas dos livros foi cancelada por outro e-mail, enviado na última terça-feira, em que a Ediouro dizia ter revisto sua posição "diante das manifestações bem embasadas e relevantes de alguns livreiros e com o objetivo de evitar a destruição de livros em um país carente de acesso à leitura".
Entre uma mensagem e outra, a Ediouro foi intensamente criticada por integrantes do mercado livreiro. A reação negativa à orientação para que os livros fossem destruídos fez "a ficha cair", afirma Carlo Carrenho, diretor do grupo.
- Estávamos pensando inicialmente numa redução dos custos de frete e processamento dos livros devolvidos. A política de devolução da quarta capa é adotada em outros países, mas depois nos demos conta de que não fazia muito sentido num país com as carências do Brasil - diz.
A primeira mensagem explicava aos livreiros como fazer para separar o miolo do livro das partes a serem devolvidas, com orientações como "com um estilete ou outro cortador afiado, alinhe uma superfície lisa e reta como uma régua, por exemplo, na lombada do livro" e "passe o estilete desde a parte de cima da capa até o final da lombada, de forma que a capa se desprenda do corpo do livro". Quanto ao destino do miolo, o e-mail especificava: "Descarte o miolo do livro. Sugerimos que aproveite para reciclagem, de forma que sua utilização seja totalmente inviabilizada".
O livreiro que não quisesse descartar o livro tinha a opção de comprá-lo da editora com desconto de 60%. Junto às orientações, os livreiros recebiam uma relação das obras a serem compradas ou destruídas. No caso da Leonardo da Vinci, tradicional livraria no Centro do Rio, a lista incluía exemplares das obras completas de Murilo Mendes, Mario Quintana e Tolstói, entre outros, além de livros de Shakespeare, Ferreira Gullar, Nelson Rodrigues etc. Milena Duchiade, dona da Leonardo da Vinci, diz que a destruição é adotada por editoras estrangeiras em casos de livros como almanaques e guias, que ficam desatualizados e não podem ser repostos no mercado. Em outros casos, as editoras dispõem de canais secundários de comercialização, como feiras do livro, sebos, ou promoções na internet, em bancas e em supermercados.
- A diferença entre o estoque e o encalhe depende também do mercado livreiro do país - afirma Milena. - Num lugar onde há uma rede forte de livrarias independentes, como a França, o encalhe é na verdade estoque, porque há sempre alternativas de venda.
Empresa agora estuda doação de livros devolvidos
Cláudia Amorim, uma das sócias da livraria Malasartes, foi uma das pessoas que escreveram à Ediouro protestando contra a orientação para que os livros fossem descartados.
- No caso de livros que ficam datados, isso até pode se justificar, mas é um absurdo pensar em fazer isso com obras literárias, que não têm prazo de validade. Pelo menos eles tiveram a decência de voltar atrás - comenta. - Cheguei a escrever para eles pedindo que pelo menos dessem outra alternativa, como a doação de livros.
Carlo Carrenho, da Ediouro, afirma que a editora está estudando a possibilidade de doar alguns dos livros devolvidos (ela aumentou para 80% o desconto oferecido aos livreiros, se eles comprarem todos os exemplares em consignação). Rui Campos, diretor da Livraria da Travessa, acredita porém que, apesar das carências do Brasil na área de leitura, as doações não podem ser tomadas como uma panaceia:
- Seria ótimo que muitas coisas fossem de graça: o feijão, a moradia... Mas, se tudo fosse assim, não haveria mercado. A produção só pode existir se houver a venda. Às vezes as pessoas fazem uma defesa da gratuidade de um modo hipócrita, como forma de marketing pessoal.
Campos diz ainda que, embora de fato os bons livros não tenham prazo de validade, há limites para a capacidade de uma livraria administrar obras antigas e novidades:
- Realmente, a função da livraria passa muito por ter espaço sempre para o que tiver valor cultural. Por outro lado, temos que lidar com milhares de lançamentos anuais. É um desafio tremendo.
O grupo Ediouro engloba atualmente a Agir, a Nova Fronteira, a Thomas Nelson, a PLUGME (audiolivros), a Desiderata e a Nova Aguilar.
Fonte: O Globo
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